segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Fulano, Sicrano e Beltrano os oitentinhas...



Era uma noite de sábado bastante agradável, daqueles dias em que o clima ajuda os mais velhos, e, durante o dia combinaram de se encontrarem à noite para comerem uma pizza em Copa.

Fulano um oitentão e meio, Beltrano um oitentão a mais e Sicrano um oitentinha...uma tríade de senhores interessantes, engraçados e bem vividos anos.

Fulano e Sicrano partiram juntos de carro para o endereço combinado, felizes, Beltrano morava em Copacabana, tinha ido ao aeroporto deixar seu amigo que iria viajar para o exterior, outro oitentão.
Se reuniram, Fulano às voltas com seu novo aparelho de celular, Sicrano rindo das trapalhadas e Beltrano resfriado...malzinho e tinha lapsos de memória. Já tinha perdido a hora do encontro, tudo bem, nada que a sabedoria e a paciência da idade havia trazido aos dois pontuais. Sicrano tem TOC e Fulano se enchia disso...poxa nessa idade ainda tem TOC, o que é? Não se conforma com nada, cara mais ranzinza...repetia ele, que era cheio de energia.

Pronto, se reuniram, riram muito, falaram muitas bobagens, outras sabias palavras, comentaram sobre política, discutiram o ultimo relacionamento do Beltrano que não se importou com as galhofas, coisas de oitentões...Deus espero não precisar chegar muito longe na idade, acho que meu TOC está piorando ou será que o Fulano não pôs o garfo na posição correta?

A galhofa era ainda mais perfeita porque Beltrano além de resfriado tinha lapsos de memória, não conseguia sair do passado__ será que ele tem Alz...? Perguntei.
__Claro que não seu maníaco ele é só esquecido...se irritou novamente Fulano.

Dividiram a sobremesa, aliás, com muita parcimônia e o medo de aumentarem o nível de glicose?...comeram ressabiados. Tomaram café...Fulano meio reticente...dizia, mas, eu tenho insônia...c...de cara chato.

Tomaram o café assim mesmo, dividiram a conta e discutiram qual seria o próximo programa...dançar??? Dormir??? Voltar para casa e tomar remédio para dormir repetiu Sicrano...ô cara chato.

Tudo bem, Sicrano e Fulano desistiram do programa noturno, e partiram para seus destinos juntos um atazanando o outro...

Beltrano que morava em Copa foi taxativo, não se preocupem eu volto daqui para casa. Resoluto. Ninguém duvidou...partiram.

Manchete de jornal no dia seguinte...senhor aparentemente com oitenta anos vaga perdido pelas ruas de Copacabana...tinha esquecido onde morava.

Não falei que ele tinha Alz...retrucou o chato do Sicrano, se apavorou Fulano e sairam correndo para Copa. Encontraram Beltrano em casa, recomposto e perguntaram...o que havia acontecido.

Beltrano respondeu...aconteceu o que? 

Tinha lapsos de memória...

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Um lance...

Me perdoem os mais fracos, eu ainda estou buscando uma palavra para dizer. Seria Eu te Amo?

Vejo a cada segundo o mundo explodindo, dores dos mais fracos, ódio dos grandes, nenhuma permissão para você viver.

Nosso dia a dia está lotado, porém, esvaziado de AMOR...

Eu só me comungo comigo mesmo, deixo os Domingos para o almoço e os pecados pendurados na parede. 

Toda voz que me acompanha, as que eu ouço em dias de silêncio tem um apelo...me guarda com zelo que somos as vozes da sua consciência.

Pelo que estou acostumado a sentir (aliás meu verbo preferido) eu não imagino um mundo em paz, porque o homem quer mais e ele sabe como se destruir.

Pode deixar, eu tranco a porta...eu seguro a maçaneta, eu penduro sua escova e escolho aquela letra que não sabes mais dizer...

Ou quanto desvario, quanta alegria em uma só noitada, quanto abandono, quanto sem ter nada o que fazer, sem ter nada o que dizer, a não sofrer no cantinho da luz e da boate preta.

Estou esperançoso (um estado de espírito peculiar) e me dei de presente um novo olhar.

Posso saber o que acontece? Posso dizer o que acontece? Não sei amanheceu e não quero acordar.

Por bem ou por mal, nada é igual em ninguém. Ainda bem.

Preciso daquela possibilidade, pode me ceder? Eu estou aqui esperançoso, todo dia roo um osso só para te merecer.

E o tempo...hein, como dizer isso a ele?

E o tempo hein? Desumano que só. Como dizer isso a ele se nem da gente ele tem dó. Eu sempre a bisbilhotar a roda do tempo, não aguento e forço os ponteiros a girar, esforço inútil, inútil...os ponteiros como borracha voltam para o mesmo lugar.

Teimoso esse tempo, acelera e estou devagar, e eu acelerado não consigo acompanhar, olhos para trás, olho para frente, de repente ele passou...tormenta, tormenta...essa doença do tempo, sim...ele é doente, impaciente, inconsequente quer tudo revirar, quer tudo sarar como se nós tivéssemos pedido a ele. Metade é verdade outra metade é mentira. Nada se pode obrigar o tempo a voltar ou me mostrar o dia seguinte, o passo seguinte, a vontade é de estancar. Impossível, impossível é da natureza do senhor tempo rejeitar, ser independente e eloquentemente nos embriagar. Vai arrancando pedaços, rompendo laços, esmigalhando espaços que vamos deixando, reduzindo nossos olhos, nosso calor até nos esfriar. 

Não, não tente ser contra o tempo, você pode caminhar contra o vento, pode se desvirtuar, mas, do tempo esse ranzinza e louco nada pode atravessar. Pode sim, querer que você o observe e você obediente permanece estático, em movimento, sem unguento, e vai deixando ele te arrastar.

Como o tempo é tão desobediente.

Ele não mente, você sabe...ele só é envolvente, tenso, manso, regado a esperança, apaga lembranças ou aninha aquelas que você as quer guardar. Ele não tem piedade, ele não tem saudade, ele arranca você do seu pé até você mirrar. Não há necessidade de discussão, a persuasão mola mestre do tempo te convence a cada instante que é nele que você tem que cavalgar sendo ele enérgico, poético, louco ou totalmente são não tem escolha. 

Sua volta não está marcada, sua ruptura está agendada, e, só os que amam sabem esperar. Para os demais, para aqueles que o tempo significa vida, o cuidado é tão extremo que a morte se vinga dizendo, basta já é TEMPO de se abandonar. Veja só que maravilha, pode sonhar com essa ruptura mas só na agenda do TEMPO é que ela irá se revelar.

Um dia lúcido...



Um dia LÚCIDO

O dia está lúcido e lindo

De um azul límpido e cheio de um Sol que queima

Queima minhas costas e torra meu cérebro

Não estou acostumado a tanta luz

Deixo me levar como se escaldado fosse e persigo a luz até me blindar

E abandono o dia lindo, límpido e feliz pelas queimaduras

Me entrego sem rasuras, sem me apagar pelas chamas das minhas costas

Do meu cérebro reconstituído que moído já foi

Volto a me sombrear

E é assim que sinto minha vida...uma ilustração!


quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Dez Haikais se você advinhar...


Haikai I

Penso e enrijeço

Haikai II

Caio e permaneço

Haikai III

Fujo e esqueço

Haikai IV

Sinto e arremesso

Haikai V

Fundo e confuso

Haikai VI

Raso e absoluto

Haikai VII

Contraio e endureço

Haikai VIII

Torço e estremeço

Haikai IX

Molho e assopro

Haikai X

Seco e embruteço

Eu te conheço!


Eu te conheço, conheço cada espanto em cada canto que você tenta se esconder

Por isso mereço ser visto, recompensado pelo serviço de te compreender

Ora uma brusca chegada, ora uma mansa partida

Acho que estou na contramão da minha história que já foi derretida

Produziu tonéis de ilusão, construiu castelos de teias, queimou feito fogueira e perdeu a mão

Me imagino como uma luz ofuscante tão irritante aos seus olhos que me ceguei em te ver

Fico cá imaginando coisas, perguntando coisas, falando coisas que minha mente insiste em esquecer

Pior seria um longo manto branco arrastando pelo caminho, um desvario de acidentes por esse caminho e eu vendo tudo isso acontecer

Não conte comigo estarei esperando sozinho todo o Universo se refazer

Quer toda a crueza do mundo aos seus pés, quer carregar todos os meus anéis, quer me transcrever como carta perdida

Eu não permito e te confesso joguei fora a sua comida...fique sem saber

Pecados


Ouça não quero ser curado dos meus pecados eu os quero todos ao meu lado e pendurados no meu pescoço como proteção contra a sua mordida

Veja bem, ter pecado não é carregar um fardo como se fosse um diagnóstico de morte sem fim é ter a coragem de se assumir

Cuidado e cuidando de mim os meus pecados te contaminam te examinam e querem te atingir

Vira e mexe o mundo quer me perdoar e eu sinto muito...o  meu destino ainda é pecar até o fim

Ainda durmo e acordo pecador, se sua incredulidade não me assusta eu te assusto por ser assim, enfim...

Pode roer meus ossos, pode torcer meu pescoço, pode me colocar pra dormir...acordarei um pecador e verei que...

Rumando pro inferno com certeza  estou praticando a destreza de não me redimir

Eu permito o pecado em mim tal e tão mortal ele pode ser, não há coragem de ninguém em me julgar...você pode seguir sem mim

Lavo minha alma com sua ignorância e permaneço no instante em que você vai me inquirir

Talvez amedrontado de morte você queira fugir não suportando a mostra dos seus próprios pecados, me faça rir

Construí cada passo amolado pelo meus pecados, estou cansado de não me permitir e de ser escalavrado na alma...é hora de partir.

Hidrico...


Sou hídrico e entro gota a gota em você
Em sua vida, nos seus olhos, no seu tesão
Sou tão hídrico que me moldo ao seu ser
Do tamanho que for
Hidrico de alagar suas várzeas
De transbordar o seu rio
De provocar ondas gigantes no seu oceano
Sou mais do que hídrico
Já sou um híbrido de mim e você
Já consigo te transformar em água para fazer-te caber em mim
Nós hídricos já somos um só
Hídrico de molhar tudo onde pisamos
De amansar o que amamos, de afogar o ódio do mundo
De sair na chuva encharcados e inteiros
Ainda hídrico caibo em cada copo d’água que você bebe sem perceber
Só hídrico tem esse poder
Ainda subo suas marés, não deixo secar teu lago, em dias de sol, calor escaldante
Continuo hídrico e te persigo pelo deserto
Eu como hídrico estou a te olhar
Só hídrico sabe o seu lugar

Mudez


Minha mudez te incomoda e sou só eu que ando com ela por todos os lados e nesses dias de longa espera sabendo o quanto ela me preza e eu a ela.

Já estou mudo por tanto tempo, que não mudo o contexto da voz que nem se pronuncia, nem se canta, não se encanta por nada além do olhar.

Mudez que não diz nada e fala tanto mesmo ao se calar...mudo sou.

Não que eu me empenhe em mantê-la, ela veio e ficou. Por período que ainda não sei. Mudez de casca, mudei a casa e só...me deixei assim.

Como somente ouvidos e olhos funcionassem e que rumo tomassem sem minha voz eu tenho certeza que se perderiam sem se reconhecer.

Isso é uma prova  sem gabarito, um abrigo sem sinalização, um pequeno espaço guardado nas cordas vocais, locais sem janelas, sem espelhos na sala de espera...sem um átono sequer.

Minha lucidez está disposta a te perdoar já que a mudez não tem dono e nem nos sonhos e pesadelos eu consigo falar.

Te perdoo então. Prossegues com sua voz, que a gravidade que guardas pode ser escutada como voz de imã.

O tempo e as cinzas

Não sei se a paciência se antagoniza com o tempo ou se junta a ele alongando os dias. Só sei que o tempo vai virando cinzas ou lembranças amareladas em nossas vidas.

Sinto também que a paciência no outro extremo se estende além da nossa compreensão e é como se estivesse interligados por uma necessidade óbvia de sobrevivência.

Temo não ter tido a clareza de perceber essa necessidade, a ansiedade tal qual armadilha mal sucedida, me toliu no total das horas e do tempo que havia. Como uma grande boca, um buraco negro engoli essas cinzas deixadas como rastro pelo tempo.

Vejo e percebo com novos sentidos, ouço com a devida atenção, cada pauta dessa música nova, que a paciência tem trazido ao meu coração.

Deixar o tempo atrelado à paciência é uma obediência a lei natural do saber viver. Uma sabedoria que só a inutilidade do perigo da ansiedade persiste em te ter, e ao se dar conta conseguimos renascer.