quarta-feira, 30 de julho de 2014

Uma homenagem a Mario Quintana...que escrevia com leveza e ousadia.


Festinha de Estrelas

Noite fria e fogueira quente

Estrelinhas olhando gente

Todos dançavam alegremente

Crianças correndo, algazarra

Cheiro de vida e de repente

Vieram as estrelinhas para a festa

Enfeitando os vestidos de chita

Pousaram na mão da alegria

Subiram para o céu contentes

Deixou o casal apaixonado

Gente sozinha sorridente

Velhinhos olhando curiosos

E a calma veio finalmente

Alegre noite Julina

Alegre noite de gente

Tenho plena noção de espaço.


Tenho plena noção de espaço, mas, agora minha visão opaca... eu tateio no seio da luz que clareou minha escuridão.

 

SOLAR

           POLAR

                     LUNAR

 

Consequências de águas passadas, palavras escritas, amassadas...pode queimar.

Deixar como está, deixar como deve ser

Não se importar com nada...vontade de não ser.

Sapato de mascate, vermelho carmim, faz meus olhos brilharem. Nada atravessa mais meus olhos do que o seu olhar em mim.

Coisas doidas acontecem a noite. Pessoas se transformam, umas em vampiro, outros em lobisomem...eu me transformo em poeta e amante.

Pois assim se fez a correção, estava lá eu ao remo, e então a vela que do mastro se soltou torceu o meu timão. De repente me vi ali no princípio de tudo e totalmente confuso deixei o barco por si só seguir. Mesmo assim ao remo me agarrei e inutilmente me cansei já que o destino remou por mim.

Como redemoinho

Como um louco

Como um cigano

Estou pronto para rodar

Estou lúcido para sentir

Estou vivo para partir

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Configurações...


Configurações...

Do ser humano que configurou sua alma em plástico, sabão ou pedra...eu só digo, corta esse elástico da pedra ensaboada.

Do ser humano que configurou sua alma em areia, pó ou carvão...eu só digo, mexa com mais força que disso tudo pode brotar um vulcão.

Do ser humano que configurou sua alma em água, mar ou rio...eu só digo, se deixe levar ao vento que maré te traz ao relento que não consegues abandonar.

Do ser humano que configurou sua alma em fogo, brasa e ferro...eu só digo, se derreta no inferno, deixe o ferro se espalhar como se lava fosse e nunca tente apagar.

Do ser humano que configurou sua alma em nada...eu só digo, corta esse elástico, mexa com força, se deixe levar ao vento se abandone ao relento e nunca tente se apagar.

 

Por que não se traz?

Traz para mim seus lábios, traz seus ouvidos a  minha boca  que eu quero te sussurrar. Deixa eu saber que estou vivo, que de dentro desse hospício existe  um doido a pensar...e que as nuvens como almofadas e que seus olhos são duas manchas de licor, que o cheiro é inebriante e que a loucura tão mansa e abrandada espera só a noite chegar.

Tomasse assim minha mão, passeando comigo ao jardim, te peço prova de amor e você duvida de mim, como se eu louco fosse, se o hospício de onde me trouxe me provasse que cada silaba dita não é pronunciada até o fim...com medo de errar as palavras, eu louco só me perdia por mim.

Assim como nunca me viu triste, nem na guerra, nem na festa. Puro falso alarme de um louco trazido de longe, bem longe, bem longe...não causo mal a você. Só procuro extirpar a síndrome do coitado que coitado não sabe distinguir você de mim.

 

 

E é assim que sinto a minha vida...




No mais recente instrumento que me dispus a decifrar eu padeci. Como padece uma pessoa anciã e cansada que amou a vida toda e errou a porta da entrada quando devia sair. E foi assim com a vista ao longe, muito além do horizonte que permeei minha historia. Foi de vida e de glória, foi de luta e inglórias derrotas de muitas, muitas que chorei.

Vi tombar minha esperança, enterrei minhas lembranças em um pé de sabugueiro que o raio consumiu inteiro e me deixou vazio como a lua cheia que eu tanto olhava e nua ela estava e se cobria somente com um nevoeiro.

Pelos caminhos vazios configurei um espectro, desconjurei um aspecto de demônio a me rondar. Noite longa na minha vida, bem escura essa noite, bem noturna essa minha vida.

Me coloquei em marcha acelerada, saí em disparada, desbragando enseadas onde não havia sequer um poço muito menos um lago para se recompor. Então que enseada imaginou?

Ventava como se nada pudesse sobrar, o uivo do vento assombrando queria me levar e eu agarrado ao meu próprio coração que pesava muitas toneladas eu mesmo assim me vi arremessar ao fundo do corredor, do labirinto dos sentimentos e tão atento estava ao vento que nenhuma dor eu senti.

Depois da tempestade que enlameou o mundo inteiro, eu nada sereno estava quando a poça que alagava minha estrada não me dava opção de passar. Eu não voltei para buscar outro caminho fui andando devagarinho sobre a poça até me encontrar no meio atolado e sozinho. Preso ao barro, incrustado fui me deixando brotar, tal qual semente sem futuro, mas, vendo meus frutos brotar.

Tornei me árvore frutífera, venci a partida da vida e minhas folhas foram ao vento dizer que além da glória perdida, existe a persistência vencida no mero acaso de uma poça de lama no lugar. Lugar que deveria ser uma estrada que seguia para o nada e que não tinha como avistar, o outro lado da ponte, o outro lado da relva, do outro lado do morro...onde eu morro para virar, sombra, fruto e um futuro pomar.

Não quis dar nome a minha árvore, não quis nomear meus frutos, não dosei nem açúcar nem amargor, não adicionei acidez, mas, não deixei sem gosto. Não errei o ponto da dosagem, deixei com coragem a seiva escorrer e assim o fruto que qualquer fosse, poderia por si dizer que gosto tem quando você o comer e saber que ali tinha uma pessoa. Que como tantas lendas de índios se casou com a terra e dela se deixou consumir.

Pernas de troncos, olhos de sementes, braços de galhos, cabelos de folhas e peito de nó. Casca feita de pele, boca que range na tempestade, tomba no vendaval escandaloso e volta sem se curvar ao mesmo prumo portentoso que a vida finalmente lhe deu.

domingo, 6 de julho de 2014

Muita doideira...


Aaaah, quando li Kafka enlouqueci...fiquei me imaginando uma barata, um cidadão sendo julgado por um crime que nem sabia que havia cometido.


E quando descobri Saramago? Queria ter estado com ele a cada parágrafo e me abri para deixar passar novamente mais um louco na minha banda, dei um tempo para ele e fui Gabo namorar.


Pensei que tinha saciado minha sede, nada, veio Kundera e subjetivamente eu o entendi.


Muito de Amado, de Gattai e Cecília, Guimarães Rosa me envolveu...Machado me emocionou, Aluizio me enterneceu e quem dera outrora eu tivesse nascido nos séculos dezoito, dezenove e não quisesse chegar ao vinte um. Dividi a conta do café com Drumond e Quintana. Lobato seja Deus!


Deixei passar Virginia, Tchekov e Nietzsche se avizinhou...pelas palavras complexas, eu que já era meio doido me convenci.


Tomei emprestado Fernando Pessoa e o dei de presente à Clarice e de tão circunspectos estavam me aborreci... ela não olhava pra mim. Dei um beijo em suas bocas e sai.


Olha lá o Hemingway passando e vai conversando com o Truman que está de capote na chuva de letras bem torneadas.


Melindrei minha amiga querida, Bishop, estava bêbada de cachaça...gostava de uma prosa, mas, Lota enciumada não me permitia ouvir.


Veríssimo tudo espiava e me fazia rir...




Deixei Marguerite Yourcenar falando com Wilde, não tinha paciência para discutir com quem não tinha sequer imaginação para o nome trocar, e me sentei lá naquele café em Paris e vi descendo por ali na rua alguns amigos maravilhosos, Portinari, Anita, Andrade...frouxos de rir...nem se aperceberam de mim.




Acordei...Estava a sonhar...

Trem sem parada...


Eu peguei um trem há cinquenta anos, não escolhi a rota nem o vagão, nem o destino e nem os desvios ou as paradas que esse trem faz.

Não escolhi estar nele, ou viajar por tanto tempo, mas, sei que olhei varias vezes pela janela e vi muitas coisas, montanhas do interior, rios, plantações, pobreza, rudeza e muitas perguntas.

Sem muitas respostas, só sei que essa viagem parece não ter fim.

Senti que parou, entraram algumas pessoas, saíram de seus trens e na mesma estação embarcaram no meu trem...meus irmãos.

 Engraçado a sensação, olho para frente, para os lados e vejo além desses assentos ocupados um infinito de lugares vazios. Penso que ainda estão por preencher.

Nesse mesmo trem entraram em paradas diferentes um por um três pessoas que me acompanham, antes no mesmo assento e agora cada um em um vagão diferente e estamos ligados por ligas de aço.

Novamente me dou conta de que o trem está enchendo, e já percebi, reconheço cada rosto. São os amigos, os mais chegados, aqueles que vão nos acompanhar sentados ao meu lado ou não até a minha parada final.

Não conta os amores? Foram poucos, uns desceram, outros voltaram e o ultimo permanecerá para sempre, iremos até o ponto final juntos.

Essa máquina nunca descarrilha, mesmo quando encontra algumas barreiras, aí o destino se encarrega de desvia-lo e mostrar que sim, os obstáculos fazem parte. Desce, respira, e se acomode novamente.

Jogamos fora pela janela, mas, sem balburdia, em silencio...as mágoas, os medos, as apreensões e as agruras do dia a dia. Nada como olhar para fora dessa janela e respirar um ar puro, sem nada que possa estagna-lo. Isso é só sua consciência.

Então o trem vai, para em algumas paradas determinadas, é chegada a hora de alguém descer, podem ser tantos os motivos. Deixo por vossa imaginação.

Um dia meu amigo me falou, iremos juntos nessa viagem. Entrou e  sentou ao meu lado e estamos seguindo juntos. Olho flores pela janela...madrugada, dia e noite. Vamos tocando em frente.

Nesse trem destino você está comigo é nele que iremos viver nossas alegrias, angustias, e, mesmo que cada um também tenha o seu trem e seu caminho a percorrer saiba que em cada parada iremos nos ver e dizer...pode ir, estamos juntos nessa aventura. Mas sua essência permanecerá comigo.

Tomando impulso!


De súbito!

Parei...de súbito! De repente me senti.

Escrevi como um telescópio, dentro, dentro dos poros de mim.

Pelo impulso!

Pelo impulso da língua, pela palavra escorrida, por consequências mal medidas, me desfiz.

Pela razão!

Que se cala e se tonteia, que se esperneia e sacaneia minha emoção...eu a traí.

Pela Emoção!

De morada fixa em minhas entranhas, cheia de manhas, engana sempre a razão...eu a feri.

Por pouco!

Por pouco não fui internado, maluco quase curado, eu minto que to louco...eu me esqueci.

Por muitos!

Com muitos olhares, com muitos andares, com poucos convivi...eu me arrependi.

Com nada!

Somente o nada pode te fazer perceber que nem você é você...eu estou a me imaginar.

Do útil ao inútil! Isso é você...


E vamos falar de alguma coisa útil...a novela sem fala, o reality que não acaba, o selfie que te entrega, a leitura que se enfadonha, da vida da vizinha sem vergonha e do negão da portaria.

E vamos fazer alguma coisa, mandar alguns imbecis calarem a boca, políticos voltarem para a poça que a lama tá seca, tirar a roupa do varal sem poeira, molhar a cara na chuva.

Prestar atenção no seu amigo que chora, no que filme que rola, na nota da escola e ignorar.

E vamos correr pela praia, sentir a brisa e a maresia, peixe nadando escondido, saco de lixo varrido, e você sem pensar.

Comer mais um dia na latinha, macarrão e sardinha, coca-cola para arrematar.

Tomar um café, expresso e corrido, fazer uns zumbidos como se isso fosse conversar.

E aquele drink da tarde, o cansaço como açoite e a noite querendo chegar.

E vamos falar de alguma coisa inútil...que você ficou sem sonhar, que se deixou levar, que a corrente foi mais forte, que não se lembrou de respirar.
Deixa o sono te consumir, comprimido pra dormir, longa noite perversa sem sonho para lembrar.



No outro dia acorde, acordes de música a rolar, com vontade de sorrir, de partir para o útil, de esperar pelo próximo, de não ser agnóstico e gostar...e vamos falar de coisas úteis, sem trocadilhos inúteis só para confundir quem tenta sempre me interpretar.

 

Sem!


Sem ar!

Tudo justo como nada frouxo fosse, como se o trouxa que me trouxe pudesse ajustar ainda mais minhas costelas.

Tudo frouxo exposto, mostrando a costela e o osso, a ponta do dedo apontado e o olho roxo.

Sem nada!

Corrente de mil volts, aperto os dentes para ver meu cérebro brilhar.

Paz ao cérebro multivoltado, pensamentos derretidos...agora vou acordar.

Por tudo, em tudo, com tudo e contudo nada a dizer...

Memória de pensamentos derretidos, é o que sobrou de mim em você.

Sem memória!

Andar solto pela multidão, olhando olhos que me querem, ver janelas e porta se abrirem querendo me abrigar.

Perdidamente apaixonado pela vida, irritado com a esperança, vingativo com a descrença, teimoso como criança, deixo a aurora da minha vida me saborear.