quarta-feira, 16 de julho de 2014

E é assim que sinto a minha vida...




No mais recente instrumento que me dispus a decifrar eu padeci. Como padece uma pessoa anciã e cansada que amou a vida toda e errou a porta da entrada quando devia sair. E foi assim com a vista ao longe, muito além do horizonte que permeei minha historia. Foi de vida e de glória, foi de luta e inglórias derrotas de muitas, muitas que chorei.

Vi tombar minha esperança, enterrei minhas lembranças em um pé de sabugueiro que o raio consumiu inteiro e me deixou vazio como a lua cheia que eu tanto olhava e nua ela estava e se cobria somente com um nevoeiro.

Pelos caminhos vazios configurei um espectro, desconjurei um aspecto de demônio a me rondar. Noite longa na minha vida, bem escura essa noite, bem noturna essa minha vida.

Me coloquei em marcha acelerada, saí em disparada, desbragando enseadas onde não havia sequer um poço muito menos um lago para se recompor. Então que enseada imaginou?

Ventava como se nada pudesse sobrar, o uivo do vento assombrando queria me levar e eu agarrado ao meu próprio coração que pesava muitas toneladas eu mesmo assim me vi arremessar ao fundo do corredor, do labirinto dos sentimentos e tão atento estava ao vento que nenhuma dor eu senti.

Depois da tempestade que enlameou o mundo inteiro, eu nada sereno estava quando a poça que alagava minha estrada não me dava opção de passar. Eu não voltei para buscar outro caminho fui andando devagarinho sobre a poça até me encontrar no meio atolado e sozinho. Preso ao barro, incrustado fui me deixando brotar, tal qual semente sem futuro, mas, vendo meus frutos brotar.

Tornei me árvore frutífera, venci a partida da vida e minhas folhas foram ao vento dizer que além da glória perdida, existe a persistência vencida no mero acaso de uma poça de lama no lugar. Lugar que deveria ser uma estrada que seguia para o nada e que não tinha como avistar, o outro lado da ponte, o outro lado da relva, do outro lado do morro...onde eu morro para virar, sombra, fruto e um futuro pomar.

Não quis dar nome a minha árvore, não quis nomear meus frutos, não dosei nem açúcar nem amargor, não adicionei acidez, mas, não deixei sem gosto. Não errei o ponto da dosagem, deixei com coragem a seiva escorrer e assim o fruto que qualquer fosse, poderia por si dizer que gosto tem quando você o comer e saber que ali tinha uma pessoa. Que como tantas lendas de índios se casou com a terra e dela se deixou consumir.

Pernas de troncos, olhos de sementes, braços de galhos, cabelos de folhas e peito de nó. Casca feita de pele, boca que range na tempestade, tomba no vendaval escandaloso e volta sem se curvar ao mesmo prumo portentoso que a vida finalmente lhe deu.

1 Comentários:

Às 23 de agosto de 2014 às 16:42 , Blogger Unknown disse...

Me emocionou! Lindo demais! Essa tá na livro!!!

 

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