quarta-feira, 25 de junho de 2014

Nem sonhava...!!!


Helio passou a tarde cantando, ele fazia faxina e ouvia musica no DVD. Tocava Bethania, Elza, Marisa Monte. Não fazia calor nem frio era uma tarde linda. Estava contendo claro alguma tristeza, cantou algumas músicas enquanto tirava a poeira. Isso lá é coisa de macho? Que humilhação.

Sem emprego, só restava economizar a grana da faxina, era pão duro, reconhecidamente sovina. Porém, não iria demitir a faxineira, só estava procurando o que fazer. Era além de sovina para si, um coração mole para os outros.

As gatas com medo do escovão, se escondiam debaixo do colchão. Não entendiam nada.

O dia tinha começado pesado, havia chorado, coração apertado e perdia a cada dia a noção das coisas, se achava esquisito, fazia falta bater cartão, ter patrão, ter rotina. Bom, ele pensava ao mesmo tempo foram tanto tempo de dedicação, exatamente trinta e quatro anos trabalhando, quase ininterruptos. Deu de ombros para as questões recheando sua cabeça e foi cantar e faxinar.

Perguntou a si mesmo, o que tinha feito de errado, e lá veio de novo o pensamento que o tirava do centro. Deus, há quanto tempo isso havia acontecido. Bola pra frente ele repetia.

Passo álcool ou sabão? Lavo a louça ou guardo a roupa? Nada como uma terapia para aliviar essas angustias não? Sabão de milagres que lava com vontade nossa alma. Deixou o DVD tocando e seguindo...nem percebeu que Bethania já ia se repetindo, não dava. Vamos levantar a poeira e tocar algo mais pra cima...bota aí uma Sandra de Sá...vermelha. Nem sei como ela conseguia ser tão estranha e olha que ele curte Nina Hagen.

Parou, a limpeza acabou, descansou, belo trabalho, casa cheirosa e alma leve. Ele aconselha. Vai junto a faxina da casa o alinhamento dos seus pensamentos, encaixando os sentimentos, jogando o pano de chão em cima da sujeira, lavando a varanda da sua alma com muita água limpa. Surgiu um novo ser...um faxineiro por prazer, um gostoso dia de muito e de nada ao mesmo tempo. Me entendem?

Procurou riscar o dia do calendário com um sorriso e conseguiu terminar lacrando a dorzinha que queria nascer pela manhã. Nada de vela escorrendo pelos cantos. Sujeira e crostas a gente tira na unha e também essa coisa que as vezes teima em crescer no coração da gente...

Continuou ouvindo música, permaneceu sereno avaliando cada sensação. Novo dia amanhã, nova proposta do que fazer.

Helio era determinado,  as vezes fraquejava, coitado...humano, demasiado humano como dizia Nietzsche um dos seus escritores favoritos. Tinha passado o dia a limpo, se acomodou, dormiu...não sonhou. Não acordou.

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