terça-feira, 16 de junho de 2015

Desculpe o transtorno! Estou em obra...



Desculpe o transtorno! Estou em obra...

Obra sem fim, obra sem mim...um desafio perpetuo de construir e destruir o caminho, o muro, a escada ou a janela.

Poderia ser a obra de uma pedra só ou de uma muralha chinesa, que gentileza ser como sou.
Essa obra inadiável adiada, odiada e amada por mim, como se nada representasse para os outros. Um símbolo arcaico da mesma obra que não te definiu.

Olho por meio da única possibilidade  que deixastes ao construtor perceber, aquela nesga de luz esbranquiçada ou pálida, como se fosse um cadafalso profundo.

Nada no mundo se parece com isso, construí um redemoinho, um buraco de Alice e sem permissão de abrir.

E a cada escalpelada que dou nessa obra de mim mesmo, percebo a forma de areia do qual sou feito.

Feio, lindo, obstruo minha visão com meus olhos claros e paro...

No mesmo segundo que claro como meus olhos meus pensamentos não fluem, e não se reproduzem sem mim.

Então me atiro da minha obra, daquela única pedra, da muralha ou da janela e parto devagar, ou caio devagar, ou saio devagar desse mesmo transtorno que meu trajeto insiste em traçar de uma obra inacabada, de uma ruela forçada, de uma presença distante e que olha por mim.