Entre as costelas!
Estão todos na trincheira, esperando que com minha coragem e
minha bala de perdão perfure suas costelas. Mas, não há. Não há balas, nem
perdão, não há nada a perdoar ou perder. E continuam lá, fazendo rondas,
esperando que eu me desarme e diga sim, diga sim, diga sim e diga sim de novo.
A fonte secou e as balas sumiram, derreteram ou simplesmente
nunca existiram.
Calmamente retiro minhas roupas e nu, sem nenhuma chance de
retorno eu dou as costas. E vou, sigo adiante, passo por passo e olho com olhos
de calma os movimentos atrás de mim...como se tivesse olhos nos ombros ou
longas antenas vibratórias. Estão todos estáticos, da mesma forma que sempre
foram, esperando que a comida chegasse na mesa no mesmo horário todos os dias,
na mesma temperatura e no mesmo sabor, embriagados de rotina.
Quando me dei conta estava a muitos passos longe, logo me
recuperando das minhas necessidades, cicatrizes fechando, a bala da
permissividade tinha deixado um rombo no meu peito, agora aos poucos ia se
fechando aquele buraco enorme, e meu coração batia novamente como se fosse um
novo, novíssimo corpo extra que me deram.
Muita ânsia me deixando atordoado, sem rumo mesmo...mas
somente numa direção, para a liberdade de ser, criatividade imensa de poder olhar com
meus olhos, beijar com minha boca e dizer tantas coisas que eu sempre quis. Nada
me colhe mais, nenhum ramo será cortado, nenhuma folha será arrancada da minha
arvore sem que eu permita. E se isso novamente acontecer é por que eu ainda não
finquei raízes em mim.
Me coloco em um pedestal, me converto em sinal, em luz
própria. Nada de abismo entre mim e eu mesmo, sei que sou perfeito na ponta dos
meus dedos que me percorrem sem medo.
E mais uma vez a certeza me invade, e a bala da coragem
atirada em direção às costelas expostas explodem em estilhaços, queimando a
porta que trancada eu deixei por tantos anos, por tanta gente, por tantos ninguém.
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