A TARTARUGA QUE QUERIA VOAR
Ela tinha um nome, se chamava
Totuga, ela morava com a família ao lado de um importante aeroporto da cidade e
desde pequenininha ela escapava das redondezas e fugia para a cerca do
aeroporto que dividia seu território e a pista de voo. Sua mãe dona Totuia não
se conformava e sempre a se alongar (o que é típico das tartarugas)em avisos e alertas, passou a observar Totuga.
- O que se passa?
- Totuga respondeu, eu quero
voar...lá do outro lado se voa, os pássaros também voam.
- Você já observou os pássaros?
Você já reparou que eles são diferentes? Já reparou que eles tem asas e por
isso podem voar?
- Ela na tenra idade já respondia
(era respondona) mas, tem tantos pássaros que mergulham na água igual a nós e
depois voam, por que eu que mergulho também não posso voar?
Sua mãe torcia a cabeça em
negativo e dizia novamente:
- Você tem asas por acaso?
Ela respondia:
- Não, não tenho.
E novamente fechava a cara e
ficava encarando a cerca lá longe, e, olhando seus irmãos tartaruguinhas
brincando na beira da água. Suspirava um suspiro profundo...e pensava ainda vou
voar.
- O tempo ia passando, Totuga
crescendo, e sempre de olho na cerca, era sua mãe dar de costas ela ia para a
beira da cerca do aeroporto e ficava lá olhando...nossa esses pássaros são tão
grandes e ainda assim conseguem voar.
Nesse momento passa um Martim
Pescador, e observa Totuga...decide ir se apresentar.
- Olá, tartaruguinha, o que você
tanto olha através dessa cerca? Os aviões?
- Ela, assustada porque achava
que os pássaros não falavam tartaruguês...então ela repetiu o que sempre dizia
para sua mãe.
- É sim, porque vocês podem
mergulhar e voar e eu só mergulhar?
- Simples, respondeu o Martim
Pescador chamado Martim Pescador...ele não tinha nome.
- Você é uma tartaruga, não tem
asas, não tem esse dom...é da sua natureza.
- E esses pássaros tão graaande
que consegue voar?
- Isso não é um pássaro é um
avião, foi construído por gente...
- Gente? Que bicho é esse? Serão
esses seres estranhos que tem só duas patas e andam em pé que eu vejo daqui da
minha cerca?
- É. Então, eles que construíram
esse monstro que voa, nós pássaros temos que tomar o máximo cuidado, senão
batemos de cara com eles.
- Tá bom, eu já vou. Você não
pode me ajudar mesmo.
Se despedem e cada um vai para
seu lado. Só que Totuga não parava de pensar, e se eu atravessar e entrar em um
daqueles monstros? Já vi um monte daqueles bichos gente entrando neles e depois
saem voando. Mas, isso é voar? Eu quero é ir sozinha, bater minhas patinhas e
voar, voar...sozinha.
Hum, acho que isso é impossível
mesmo.
Decidiu que já que não tinha asas
iria de alguma forma atravessar aquela cerca e iria voar naquele monstrão.
Passaram-se vários dias, ela
ainda estava tentando cavar um buraco na terra e sair do outro lado da pista,
não parou nem para pensar quando chegasse do outro lado, o que faria para
entrar naquele monstro. Será que gente fala tartaruguês?
Foi com afinco fazer o buraco.
Cada vez que terminava cobria com capim, matinho, tudo o que pudesse não
entupir o buraco e disfarçar sua empreitada, nem seus irmãozinhos tartarugas
desconfiavam...mas, dona Totuia não tinha mais olhos para ela que já estava
crescidinha e podia se cuidar sozinha. D. Totuia já estava esperando outra
ninhada.
- Totuga pensava, ótimo...mais
irmãozinhos para minha mãe tomar conta assim ela me esquece.
Cavava, cobria, cavava e cobria,
cavava e cobria todo final de dia, isso demorou muito tempo?
(lembrando que para as tartarugas
dias são horas, dias minutos...elas vivem mais de cem anos)
Totuga nem tinha consciência
disso estava tão empenhada em cavar e disfarçar o buraco.
Em um belo dia ela começa a
vislumbrar um luzinha do outro lado, e com pressa (não muito peculiar das
tartarugas) ela cavou com vontade, conseguiu ver do outro lado da cerca e ficou
feliz, feliz, feliz...
Tartaruga não ri, não chora, nem
bate palma, mas, ela sentiu seu coraçãozinho bater acelerado e nem pensou em
momento nenhum entrar em sua casquinha quentinha, queria porque queria
atravessar aquela terra preta, quente e dura (a pista de pouso).
- Calma, pensou com ela
mesma...cheguei aqui e agora, o que faço para voar? Não adianta nem me
comunicar com o bicho gente...parece que estão sempre apressados para entrar
naquele monstro.
Deixou a empreitada para outro
dia...afinal, tartaruga tem muuuito tempo para viver. Ela não tinha pressa.
Pensou, pensou, articulou os
planos de como fazer para entrar naquele monstro...dormiu.
No outro dia como um relâmpago de
ideia, decidiu o seguinte...iria caminhar até um daqueles monstros que estavam
parados naquela terra dura e preta e iria subir naquela coisa preta
redonda...iria, iria, iria.
Começou a aventura, atravessou de
novo a cerca, se dispôs a atravessar aquela terra estranha, até que conseguiu
chegar bem pertinho de um daqueles monstros sem ninguém perceber.
- Olhou, olhou. Estava tão
entusiasmada que nem percebeu que um bicho gente já a observava.
Ele foi chegando, chegando e a
viu ali pertinho do avião, ou melhor da roda do trem de pouso. Nem imaginava
que ela estava querendo e tramando um jeito de se alojar ali e voar, sozinha
como ela mesma achava.
No entanto foi amor a primeira
vista (por parte dele) tartarugas não se apaixonam por bicho gente.
Ele se aproximou, e ela se
apercebeu, tentou correr (tartaruga corre?) e foi alcançada claro, o bicho
gente a pegou, ela se escondeu no seu casco e jurou que nunca mais iria sair
dali de dentro de tanto medo.
Seu coraçãozinho que estava
acelerado de emoção estava agora acelerado de medo. O que será que esse bicho
gente fará comigo.
No entanto ela não sabia que ele
já estava muito apaixonado por ela, achou que a tinha salvo e o melhor...o bicho
gente era piloto de avião.
Passou um dia, dois dias, e no
terceiro dia ela com fome resolveu sair da sua casquinha...olhou em volta e
percebeu que estava em lugar estranho. Era bonito, largo, com matinha igual de
onde morava. Era o jardim da casa do bicho gente.
Quando o bicho gente percebeu que
ela tinha saído da casca, conversou com ela em uma língua muito estranha, não
era tartaruguês com certeza...ela não entendia.
Ele percebeu que ela se recolhia
e pensou, o que fazer para essa tartaruguinha sair da casca?
Imaginou, como seria para um
bichinho (desses que está sempre preso à terra) como seria voar em um
avião...pensou, pensou...e decidiu ela iria com ele no próximo voo.
Em um belo dia desses em que ela
já estava até achando aquele local agradável, já se acostumando ao bicho que
latia, ao que miava e também aos passarinhos bobocas que só sabiam bicar o chão
(não mergulhavam e voavam como o Martim Pescador) ela foi levantada de repente.
Sentiu medo de novo? Não...
Ficou tranquila, e foi olhando
todo o movimento...a cabeça balançava dentro do seu casco e aquele bicho gente estranho
falando com ela...será que ele era outro tipo de bicho que achava que falava
com tartarugas.
Foi posta em uma caixinha, e
confortavelmente e com muito carinho foi carregada...de olhos bem arregalados
(tartaruga tem olhos calmos, mas, não Totuga) ela foi levada até o mesmo lugar
onde foi encontrada. Susto...será que terei que voltar para minha casa?
Nada, percebeu que iria entrar em
um daqueles monstros...seu coração descontrolado começou a acelerar de novo...o
que será que me acontecerá?
Ele (o bicho gente) a pegou com
muito carinho novamente e entrou em sua cabine, a colocou quietinha em seu
painel de voo e ligou o avião.
E todo o movimento começou, ela
foi sentindo que aquele monstrão estava se movendo, ela de olhos arregalados
(agora ela já estava acostumada a arregalar os olhos) tentou entrar em sua
casquinha, mas, a curiosidade era maior. Foi olhando o céu azul se abrir, foi
se abrindo e ela ficou olhando a terra ir se tornando pequena, pequena até que
não podia se ver nada, nem mesmo os seres gente estranhos que pareciam agora
com suas amigas formiguinhas (elas são poliglotas e falam tartarugues).
Respirou fundo e foi olhando o
céu azul, o sol brilhando e os Martins Pescadores voando.
Se sentiu realizada, estava
voando...quem disse que nunca realizaria seu sonho.
Daquele em dia em diante, voava
sempre e só queria contar para sua mãe que agora voava.
Não tinha jeito, foi somente
encontrando com outro pássaro que conhecia o Martim Pescador que mandou um
recado para sua mãe.
O bilhete falado era assim: “
Mãezinha, eu desapareci, deixei você triste, mas, não fique mais. Estou bem e
realizei meu sonho...agora sou uma tartaruga voadora. Olhe para o céu e veja
esse monstro que voa...estou dentro de um deles.”
Sua mãe ficou feliz, contente com
esse recado dado pelo Martim Pescador, e, levantando o pescocinho de dentro da
sua casca olhou para o céu.
Quem disse que tartaruga não pode
voar?