quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Recomeço!



Bom é respirar  antigos ares, ser livre por si só

Compreender a cada dia que a vida é libertadora

Que a imaginária prisão reside somente nos nossos medos

Tudo como um grande fantasma de boca grande e engenhosa

Medrosa é nossa vida sem os riscos de viver

Voltar para casa, rever os caminhos de sempre

Da infância gostosa, da lembrança generosa

Posso agora novamente olhar os caminhos dos meus pequenos

Ou eu quando pequeno era um libertário a imaginar

Quanto tempo passamos assim presos aos títulos de nobreza

Esquecendo que a riqueza está em olhar e admirar a rua velha

A que morastes quando criança mesmo agora defeituosa, a rua

Ela continua lá

Falo de recomeço, de um princípio sem fim

Falo finalmente de forças e esperança

Labutando todo dia, todo dia sem ter dó

Feliz do reencontro com tudo o que há de bom em mim!

A tartaruga que queria voar!



A TARTARUGA QUE QUERIA VOAR
Ela tinha um nome, se chamava Totuga, ela morava com a família ao lado de um importante aeroporto da cidade e desde pequenininha ela escapava das redondezas e fugia para a cerca do aeroporto que dividia seu território e a pista de voo. Sua mãe dona Totuia não se conformava e sempre a se alongar (o que é típico das tartarugas)em avisos e alertas, passou a observar Totuga.

- O que se passa?

- Totuga respondeu, eu quero voar...lá do outro lado se voa, os pássaros também voam.

- Você já observou os pássaros? Você já reparou que eles são diferentes? Já reparou que eles tem asas e por isso podem voar?

- Ela na tenra idade já respondia (era respondona) mas, tem tantos pássaros que mergulham na água igual a nós e depois voam, por que eu que mergulho também não posso voar?

Sua mãe torcia a cabeça em negativo e dizia novamente:

- Você tem asas por acaso?

Ela respondia:

- Não, não tenho.

E novamente fechava a cara e ficava encarando a cerca lá longe, e, olhando seus irmãos tartaruguinhas brincando na beira da água. Suspirava um suspiro profundo...e pensava ainda vou voar.

- O tempo ia passando, Totuga crescendo, e sempre de olho na cerca, era sua mãe dar de costas ela ia para a beira da cerca do aeroporto e ficava lá olhando...nossa esses pássaros são tão grandes e ainda assim conseguem voar.

Nesse momento passa um Martim Pescador, e observa Totuga...decide ir se apresentar.

- Olá, tartaruguinha, o que você tanto olha através dessa cerca? Os aviões?

- Ela, assustada porque achava que os pássaros não falavam tartaruguês...então ela repetiu o que sempre dizia para sua mãe.

- É sim, porque vocês podem mergulhar e voar e eu só mergulhar?

- Simples, respondeu o Martim Pescador chamado Martim Pescador...ele não tinha nome.

- Você é uma tartaruga, não tem asas, não tem esse dom...é da sua natureza.

- E esses pássaros tão graaande que consegue voar?

- Isso não é um pássaro é um avião, foi construído por gente...

- Gente? Que bicho é esse? Serão esses seres estranhos que tem só duas patas e andam em pé que eu vejo daqui da minha cerca?

- É. Então, eles que construíram esse monstro que voa, nós pássaros temos que tomar o máximo cuidado, senão batemos de cara com eles.

- Tá bom, eu já vou. Você não pode me ajudar mesmo.

Se despedem e cada um vai para seu lado. Só que Totuga não parava de pensar, e se eu atravessar e entrar em um daqueles monstros? Já vi um monte daqueles bichos gente entrando neles e depois saem voando. Mas, isso é voar? Eu quero é ir sozinha, bater minhas patinhas e voar, voar...sozinha.

Hum, acho que isso é impossível mesmo.

Decidiu que já que não tinha asas iria de alguma forma atravessar aquela cerca e iria voar naquele monstrão.

Passaram-se vários dias, ela ainda estava tentando cavar um buraco na terra e sair do outro lado da pista, não parou nem para pensar quando chegasse do outro lado, o que faria para entrar naquele monstro. Será que gente fala tartaruguês?

Foi com afinco fazer o buraco. Cada vez que terminava cobria com capim, matinho, tudo o que pudesse não entupir o buraco e disfarçar sua empreitada, nem seus irmãozinhos tartarugas desconfiavam...mas, dona Totuia não tinha mais olhos para ela que já estava crescidinha e podia se cuidar sozinha. D. Totuia já estava esperando outra ninhada.

- Totuga pensava, ótimo...mais irmãozinhos para minha mãe tomar conta assim ela me esquece.

Cavava, cobria, cavava e cobria, cavava e cobria todo final de dia, isso demorou muito tempo?

(lembrando que para as tartarugas dias são horas, dias minutos...elas vivem mais de cem anos)

Totuga nem tinha consciência disso estava tão empenhada em cavar e disfarçar o buraco.

Em um belo dia ela começa a vislumbrar um luzinha do outro lado, e com pressa (não muito peculiar das tartarugas) ela cavou com vontade, conseguiu ver do outro lado da cerca e ficou feliz, feliz, feliz...

Tartaruga não ri, não chora, nem bate palma, mas, ela sentiu seu coraçãozinho bater acelerado e nem pensou em momento nenhum entrar em sua casquinha quentinha, queria porque queria atravessar aquela terra preta, quente e dura (a pista de pouso).

- Calma, pensou com ela mesma...cheguei aqui e agora, o que faço para voar? Não adianta nem me comunicar com o bicho gente...parece que estão sempre apressados para entrar naquele monstro.

Deixou a empreitada para outro dia...afinal, tartaruga tem muuuito tempo para viver. Ela não tinha pressa.

Pensou, pensou, articulou os planos de como fazer para entrar naquele monstro...dormiu.

No outro dia como um relâmpago de ideia, decidiu o seguinte...iria caminhar até um daqueles monstros que estavam parados naquela terra dura e preta e iria subir naquela coisa preta redonda...iria, iria, iria.

Começou a aventura, atravessou de novo a cerca, se dispôs a atravessar aquela terra estranha, até que conseguiu chegar bem pertinho de um daqueles monstros sem ninguém perceber.

- Olhou, olhou. Estava tão entusiasmada que nem percebeu que um bicho gente já a observava.

Ele foi chegando, chegando e a viu ali pertinho do avião, ou melhor da roda do trem de pouso. Nem imaginava que ela estava querendo e tramando um jeito de se alojar ali e voar, sozinha como ela mesma achava.

No entanto foi amor a primeira vista (por parte dele) tartarugas não se apaixonam por bicho gente.

Ele se aproximou, e ela se apercebeu, tentou correr (tartaruga corre?) e foi alcançada claro, o bicho gente a pegou, ela se escondeu no seu casco e jurou que nunca mais iria sair dali de dentro de tanto medo.

Seu coraçãozinho que estava acelerado de emoção estava agora acelerado de medo. O que será que esse bicho gente fará comigo.

No entanto ela não sabia que ele já estava muito apaixonado por ela, achou que a tinha salvo e o melhor...o bicho gente era piloto de avião.

Passou um dia, dois dias, e no terceiro dia ela com fome resolveu sair da sua casquinha...olhou em volta e percebeu que estava em lugar estranho. Era bonito, largo, com matinha igual de onde morava. Era o jardim da casa do bicho gente.

Quando o bicho gente percebeu que ela tinha saído da casca, conversou com ela em uma língua muito estranha, não era tartaruguês com certeza...ela não entendia.

Ele percebeu que ela se recolhia e pensou, o que fazer para essa tartaruguinha sair da casca?

Imaginou, como seria para um bichinho (desses que está sempre preso à terra) como seria voar em um avião...pensou, pensou...e decidiu ela iria com ele no próximo voo.

Em um belo dia desses em que ela já estava até achando aquele local agradável, já se acostumando ao bicho que latia, ao que miava e também aos passarinhos bobocas que só sabiam bicar o chão (não mergulhavam e voavam como o Martim Pescador) ela foi levantada de repente. Sentiu medo de novo? Não...

Ficou tranquila, e foi olhando todo o movimento...a cabeça balançava dentro do seu casco e aquele bicho gente estranho falando com ela...será que ele era outro tipo de bicho que achava que falava com tartarugas.

Foi posta em uma caixinha, e confortavelmente e com muito carinho foi carregada...de olhos bem arregalados (tartaruga tem olhos calmos, mas, não Totuga) ela foi levada até o mesmo lugar onde foi encontrada. Susto...será que terei que voltar para minha casa?

Nada, percebeu que iria entrar em um daqueles monstros...seu coração descontrolado começou a acelerar de novo...o que será que me acontecerá?

Ele (o bicho gente) a pegou com muito carinho novamente e entrou em sua cabine, a colocou quietinha em seu painel de voo e ligou o avião.

E todo o movimento começou, ela foi sentindo que aquele monstrão estava se movendo, ela de olhos arregalados (agora ela já estava acostumada a arregalar os olhos) tentou entrar em sua casquinha, mas, a curiosidade era maior. Foi olhando o céu azul se abrir, foi se abrindo e ela ficou olhando a terra ir se tornando pequena, pequena até que não podia se ver nada, nem mesmo os seres gente estranhos que pareciam agora com suas amigas formiguinhas (elas são poliglotas e falam tartarugues).

Respirou fundo e foi olhando o céu azul, o sol brilhando e os Martins Pescadores voando.

Se sentiu realizada, estava voando...quem disse que nunca realizaria seu sonho.

Daquele em dia em diante, voava sempre e só queria contar para sua mãe que agora voava.

Não tinha jeito, foi somente encontrando com outro pássaro que conhecia o Martim Pescador que mandou um recado para sua mãe.

O bilhete falado era assim: “ Mãezinha, eu desapareci, deixei você triste, mas, não fique mais. Estou bem e realizei meu sonho...agora sou uma tartaruga voadora. Olhe para o céu e veja esse monstro que voa...estou dentro de um deles.”

Sua mãe ficou feliz, contente com esse recado dado pelo Martim Pescador, e, levantando o pescocinho de dentro da sua casca olhou para o céu.

Quem disse que tartaruga não pode voar?

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Dos livros o mal o menor!


Ler ou escrever é algo que deixa qualquer um em estado de esquizofrenia! Me sinto esquisito, esquizofrênico e tolo ao mesmo tempo.

Considerando que a leitura te possui então você dá a ela o que nem sempre quis dar, você mesmo e no mais difícil plano de sua existência.

Entregar um livro a estante sem acabar de lê-lo é cometer um aborto assistido pelos olhos abertos da ignorância.

Não considero estar em transe quando leio...algo me transborda em cinco minutos. No entanto durmo.

Durmo e as consequências se foram, retomadas as devidas proporções o efeito dessa droga chamada leitura provoca em mim uma gota de êxtase só retomada depois de escrever mentalmente, reescrever, e então esquecer. É meu antídoto.

Não tenho personagens fixos, padronizados e horrorizado com o destino de cada um eu os mato antes mesmo de virarem uma colcha de palavras mal costuradas e caírem no ridículo de ser sempre eu mesmo ali, em cada um.

Não tenho a disciplina para criar histórias ou grandes enredos, tenho que começar...por onde? Ainda não sei ou quem sabe expurgando todos os mínimos que existem em mim e  deixa-los ditarem em meus ouvidos, diálogos, frases, enredos e alegorias de si mesmos.

Quero fazer um livro de poesias leves como Drummond, Quintana, Barros...tropeço sempre no estigma de colocar sal nas letras.

Persistência, insistência são o que conduzem as palavras no trem bala da língua! Prefiro minha língua ainda atrelada a uma carroça puxada por burricos mansos e despreocupados com olhar triste e pensativos, escolhendo em qual frase colocar o ponto final.

Deviam executar de vez minha memória a deixa-la solta por aí como louca e pulsante bolinha de borracha quicando ladeira abaixo indo bater direto no seu pé.

Com direito a alegria, somente comemorando a vida depois que ela com suas tranças de morte te brinda com mais um gole do gim que eu mesmo preparo.

E por falar em vida, olha ela aí...acabou de chegar! Preciso ter uma longa conversa com essa senhora que vive em mim e que se ausenta as vezes e vai a procura de outro tanto de ignorantes a aceita-la na promessa de que será eterna.

Enfim à leitura, experimente a sensação de não olhar somente para as letras acumuladas em fileiras e deixe que cada uma seja impressa em você como tatuagem bem feita entre seus olhos e seu coração.