segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Um conto...quase inútil!



Quando acordo meus pensamentos parecem uma revoada de gralhas que voam em círculos, atrapalhando minhas rezas matinais, a velocidade do pensamento é maior do que a de um cometa singrando o espaço com sua cauda de gelo deixando um rastro de estrelas que em breve se derreterão.
Somente depois de respirar, de ler meus livros prediletos, é que consigo orar com pensamentos ainda quase de beija flor que mesmo parado bate as asas em velocidade também de cometa quase se descongelando. Isso, é assim que me sinto no início de cada dia...um cometa descongelando, as vezes estou longe, bem longe do Sol...outros dias tão próximo que minha esfera estelar se desintegra rapidamente. O dia começa assim, com a cabeça turbulenta, com o coração apressado em adivinhar o que virá depois de abrir os olhos e saber que o dia já iniciou. Ultimamente nada de rotina, mesmo que tenha que impor algo semelhante, as circunstâncias não deixam. Tumultuo a cama com abraços no travesseiro, com a leitura diversificada ali mesmo...troco de livro na terceira página lida, ou na quinta, não sei exatamente. Uma visão embaralhada pela miopia e pela claridade pouca do quarto.
Me levanto, levanto, levanto, levanto...em câmara lenta porque meus pensamentos já criaram uma linha que me prende a mim mesmo e parece que são infinitos, extinguindo cada vontade de lavar a cara. Mas, eu gosto...gosto de lavar a cara de saber que outro dia está começando, de olhar para o espelho com olhos inchados e que diminuem com a água gelada...eu faço questão disso!
Com pensamentos levemente alinhados, remédios de pressão, sob a pressão que não muda eu me atrevo a escrever. Poucas linhas, mas, sempre doloridas como essa de expressar que meus olhos ardem de tanto sabão.
Procuro ainda achar o primeiro raciocínio que me veio, não, nada de reflexão...refletir é meu exercício predileto ao longo do dia e termina à noite me causando insônia, deveria mudar a ordem das coisas e ser mais racional. Eu vou em busca da minha primeira vontade também, ah sim...me lembrei. Um emprego, daqueles de sair todo dia de casa, já ensaiando que sorriso darei ao encontrar meu patrão na porta, treinando em que entonação será o bom dia que melhor representa a escravidão, de bater cartão, de apontar lápis, de ligar a máquina e desenhar números, números e problemas que se alongam e que fazem o dia ficar excitante.
Então vou, desculpe não sei para onde...
Bem, vou para os meus pensamentos do dia, para meus afazeres domésticos, para as soluções práticas, para minha escola particular que me ensina inglês, que me ensina alemão e que ajuda a fazer cálculos.
Nada de fome, nada de sede... tomar água de forma forçada como uma pedra no meu sapato depois de andar em terreno pedregoso, percebo isso. Lá vou eu e ao final da tarde escutar um pouco meus pensamentos, meu coração, o outro...Aaah, o outro esse ser tão diferente de mim, que delícia sabê-lo, de conhecer seus medos e tomar posse de si mesmo perante tanta diversidade.
Tenho participado ativamente da minha vida, como se somente agora ela me pertencesse e como só agora eu percebesse que passei anos tentando ser o que não queria ser ou quase isso, e  claro impressionado de perceber ser esse fato (gosto de fatos) algo tão comum a tantas pessoas...depois de um ônibus lotado a caminho do Centro, quem não gostaria de ser clic de revista.
Eu também penso nos amigos que estão distantes, há alguns tão distantes de mim e que moram na mesma cidade em que eu nasci ou aqui na vizinhança, outros estão distantes porque geograficamente estão além mar, porém, por alguma razão se tornaram distantes também do meu coração. Vai entender a lógica disso tudo. Não tem lógica.
E assim o dia termina com uma conjectura de? E amanhã o que será? Preciso interromper o fluxo ou deixo que o sono venha com esforço me botar na cama? Aliás, Morfeu comigo é um impostor e inoportuno ser divino, que por alguma razão perdeu seu relógio onde estava escrito meu nome, ou minha ficha...não sei exatamente como ele controla o sono dos seus súditos, deve ser um imenso, enorme arquivo onde minha ficha com certeza está fora da ordem ou meu relógio precisando de conserto.
As gralhas já se foram e se engana quem pensa que o beija flor não gosta de escuro. Há flores noturnas e observa-las é um ato tão deslumbrante quanto medíocre inclusive por ser eu míope.
Então eu vou devagar e divagando me deixando assombrar por mais um par de sílabas, e vai saindo em fluxo acelerado de mal escritas linhas com minha letra de sono.

3 Comentários:

Às 22 de setembro de 2014 às 08:38 , Blogger Neyde Arte Artesanato disse...

Gostei!, texto sonambulo - linhas,tem tudo para continuar...abraços.

 
Às 23 de setembro de 2014 às 21:17 , Blogger Espaço Literário Silvana Gomes disse...

Nossa, que lindo!! Amei todo o texto, a diversidade de sentimentos expostos.
Se Morfeu esqueceu de ti, com certeza ele sabia o que estava fazendo. rsrsrsrs
Beijo.

 
Às 29 de outubro de 2014 às 18:37 , Blogger Unknown disse...

Profundo....Viagem...Ao seu eu profundo , profano, humano!! Parabéns!!

 

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